domingo

Primeira Vez

Como tudo na vida, começou como simples curiosidade. O que haveria de erótico em crianças? O problema foi a facilidade que se tem hoje em dia para se encontrar pornografia na internet. Antigamente isso era um submundo, sei lá, coisa que se fazia escondido e não se comentava, nem sei como conseguiam trocar esse tipo de imagem. Anúncios cifrados no jornal talvez, uma rede de amigos que se conheceu em algum paraíso do turismo sexual, um senhor de sobretudo preto numa esquina escura.
Ouvi umas histórias, um primo de um amigo meu trocava as fraldas da sobrinha. Era doente, a criança com menos de um ano e ele dizia que tinha que ir enfiando o dedinho assim de leve, pra menina ir se acostumando. Achei aquilo nojento. Depois tem aquela velha piada no bar, as mãozinhas pequenininhas e o seu negócio alí, enorme entre aqueles dedinhos macios. Risadas. Que homem não fantasia ter um caralho enorme, gigante? Tem algo de machismo na coisa também, de ser o primeiro a colher a cereja, quebrar o lacre. E inocência, ser o primeiro é ensinar tudo, introduzi-la aos prazeres do sexo.
Mas ainda por essa época não entendia o erotismo dos pequenos seios que começavam a despontar, da penugem clara que surge antes da menarca, do corpo ainda sem curvas. E o cheiro de menina ...
Sei que foi esse último que me pegou, mas isso foi mais tarde. Antes vieram racionalizações do tipo: minha avó se casou aos treze, isso era perfeitamente normal antigamente, porque esse barulho todo agora? Depois vieram as salas de bate papo na internet. O anonimato é o seu maior aliado nessas horas, foram meses trocando fantasias escondido atrás da tela do computador. Chegei a ter uma conta no icq onde conheci várias adolescentes. Falávamos das mesmas coisas, comecei a assistir aos mesmos programas na tv, os mesmos filmes. Mas nunca tive coragem de me encontrar com nenhuma delas.
Foi então que conheci o Túlio. Ele padecia das mesmas angústias e inquietações, começamos a trocar experiências, mais tarde fotos - ainda pelo correio. Era tudo mais ingênuo do que hoje em dia, as primeiras fotos que vi eram antigas, em preto e branco, pré-adolescentes nuas com os corpinhos como descrevi acima, raramente em poses sensuais. Certa vez ele me trouxe uma calcinha de menina, disse que roubou do cesto de roupa suja da vizinha quando ela entrou para atender ao telefone.
Deve ter sido nesse momento que algo se quebrou dentro de mim. O cheiro. Não sei como descrever, tinha notas de amêndoa, algo de suor, mas um suor fresco, quase perfumado. Depois disso não podia me aproximar de uma menina novinha sem que meu coração disparasse com a lembrança daquele perfume.
Foram semanas de tormento. Me desconectei de tudo. Cheguei até a ter medo de sair de casa, mas o desejo venceu, acabei por encontrar - na internet em princípio - farto material para alimentar minhas fantasias. Eram filmes, fotos, sites privados com acesso a webcam. Voltei ao bate papo online, agora com o msn.
Passava muitas tardes no shopping passeando pelas praças de alimentação e assistindo a filmes adolescentes. Me sentava sempre atrás de algum grupo de meninas e tentava sentir o cheiro. Cheguei a segui-las discretamente mais de uma vez, mas ainda não foi assim que consegui me satisfazer.
Somente o perfume inocente das meninas não era mais suficiente, durante a noite eu acordava banhado de suor e meus sonhos eram povoados por ninfas nuas impúberes, me tocando, se tocando. Um verdadeiro pesadelo, mas um pesadelo pelo qual eu ansiava mais e mais a cada dia. Comprei algumas calcinhas de menina. Em vão, nenhuma delas tinha o cheiro de mocinha que tanto me inflamava.
Mais uma vez foi a internet que me proprcionou o derradeiro encontro. Em um dos sites privados comentava-se de uma cidade no interior do país onde as meninas começavam a vida cedo. Vovó outra vez, que Deus a tenha, casou-se aos treze. Fui para lá. Suava frio quando desci na rodoviária, tinha a boca seca e um pouco de enjôo de angústia e antecipação. Não foi difícil encontrar o homem que iria me ajudar e foi muito mais barato do que pensei.
No quarto simples uma cama de solteiro, criado mudo e um cahorrinho de pelúcia sobre o travesseiro. Fazia calor, uma mosca voava de encontro ao vidro por traz das cortinas semi serradas. A menina entrou, devia ter uns doze anos no máximo - era virgem, me garantiram. Vestia uma regatinha azul e minissaia jeans, meio torta para um dos lados, nos pezinhos sujos da poeira da rua de terra, sandálias havaianas. Era morena, os olhos castanhos focaram de repente no cachorrinho e ela perguntou:
- É seu, tio?
- É pra você. Você gosta de cachorrinhos?
O que aconteceu depois foi muito rápido, muito confuso. Como toda primeira vez. Não cheguei a penetrar a menina. Não pude, mas pedi para que tirasse a roupa e passei as mãos pelo seu corpo. Brincamos de médico e de cavalinho e logo não pude mais me conter, virei para o lado e gozei com um longo gemido. A menina ainda perguntou se tinha me machucado, mas eu disse que estava tudo bem, pedi para que se vestisse e cuidasse bem do cahorrinho do tio.
Saí de lá envergonhado, com nojo de mim mesmo. Não consegui encarar o rapaz que cuidava do quarto, só pensava em ir para casa e tomar um banho. Durante todo o caminho sentia o cheiro daquela tarde e me parecia que todos os outros também podiam sentir. Eu certamente sentia na pele os olhares de reprovação. Em casa não consegui tomar banho, o cheiro da menina continuava em mim, tive que me aliviar mais uma vez.
Fiquei dois dias no quarto com aquelas lembranças. Muitas vezes me arrependi de não ter ido mais longe. Outras tantas tive a certeza de ter feito a coisa certa, podia assustar a menina, traumatizá-la. Da próxima vez eu avanço mais um pouquinho, quem sabe só um dedinho. Assim, pra ela ir se acostumando.

sexta-feira